
Meus primeiros meses conhecendo Joel Osteen e a Lakewood Church
Este post é indicado para aqueles que conhecem as discussões que envolvem a Teologia da Prosperidade e mega pastores que a promovem. Faço minha análise pessoal a respeito do tema após minha mudança para Houston e frequentação da maior igreja dos Estados Unidos, atualmente liderada por Joel Osteen, filho do fundador da igreja. Para entender sobre minha percepção (ou desapego) quanto aos vínculos religiosos, recomendo a leitura destes dois textos (Evangélicos em crise e Porque não sou adventista).
Situando…
Para começar, sou um desigrejado. Hoje em dia (escrevo este texto no início de 2015) este é um termo ainda incômodo no meio cristão. Pessoas ainda fazem caras de desaprovação quando menciono não ser membro de nenhuma igreja. Quando tomei esta decisão, em 2006, a situação ainda era pior. Havia uma minoria que achava que eu tinha comprado uma passagem só de ida para o inferno, alguns que faziam ameaças psicológicas e, por fim, meus pais, que consideraram a novidade como se eu tivesse lhes dito que passaria a tomar suco ao invés de leite no café da manhã. Ou seja, nada como uma família unida, que sabe dar importância ao que realmente… importa.
Se você leu os textos que mencionei acima, sabe que não tenho apego nenhum a religião ou denominação. O que tenho é asco a práticas diabólicas disfarçadas de Evangelho, dentre elas, a Teologia da Prosperidade.
Mas por que então você está frequentando a maior representante mundial desta prática? Ainda mais no maior país exportador de lixo religioso do mundo? Tudo que bem que temos peixes grandes no Brasil, das mais variadas espécies: malafaias, macedos, erre-erres e valdomiros… Mas aí nos EUA a coisa é diferente.
Eu explico.
Por ser o país onde o marketing e a propaganda fazem parte da cultura, independentemente de qual área se refira, em um primeiro momento essas diferenças culturais causam certo incômodo para quem não conhece. Comigo foi assim ao ver também e por isso que parei este texto no segundo parágrafo para voltar a ele três meses após seu início.
As pessoas vivem suas vidas normalmente como em todo lugar, mas o fato de ser o país mais observado no mundo, sempre envolvido em guerras, atentados e conflitos sociais, com a cultura do medo sendo transmitida dia a noite pela tevê, muitas igrejas enfatizam demasiadamente o poder do mal.
Obviamente há exceções, mas geralmente há os seguintes grupos de igrejas:
a) as igrejas apocalípticas, que criam pessoas que mais têm medo do diabo do que o temor do Senhor;
b) as igrejas da letra, que escolhem um versículo ou capítulo da Bíblia para construir toda a sua doutrina. Claramente, aqui nos EUA, o tema de maior importância é o pinto. Isso mesmo. Impressionante como tudo que envolve sexualidade gera conflitos absurdos. “Pra quê amar as pessoas se eu posso condená-las por terem opções diferentes das que eu li na Bíblia?” Eles pregam.
c) as igrejas-clubes tradicionais, que pregam mais a instituição do que a salvação, ou seja, o banho-maria de sempre no qual a pessoa é tratada como sócio-frequentador, e não como ovelha (venha, escute, finja que você é a pessoa mais feliz do mundo e volte semana que vem) e, por fim,
d) há os astutos marketeiros que conhecem as necessidades espirituais das pessoas e utilizam este conhecimento para fazer o mal. E o mal de maneira sutil, ou seja, venha aqui, veja os milagres que este pastor faz, contribua financeiramente para o ministério e seja feliz.
Tudo bem que dá ojeriza chamar os quatro grupos acima de igreja, mas um dia já expliquei minha definição de igreja e Igreja.
Este último grupo, com caracteríricas predominantes naquela fauna aquática mencionada no começo do texto, é onde muitos colocam Joel Osteen e a Lakewood Church. Obviamente que não enxergo desta forma.
Ok, mas como é a Lakewood?
O conteúdo de seus cultos é direto, geralmente com mensagens de encorajamento e “dias mehores virão”. Por conhecer a Bíblia e pelos meus esforços em entender os sinais do tempo, é claro que sei que dias melhores não virão (em um contexto global), mas os dias melhores mencionados por Joel são dias melhores nas vidas das pessoas, que enfrentam problemas como qualquer outro, seja no trabalho, nas finanças ou nos relacionamentos. E, se uma pessoa não souber discernir entre os dias melhores do mundo e os dias melhores em uma vida, ou é falta de inteligência ou falta de fé. Or both.
Um cristão tradicional vai considerar seu conteúdo raso? Sim, e eu concordo. Mas geralmente a mesma pessoa que reclama que as mensagens são rasas é a mesma pessoa que não lê a Bíblia em sua casa, que não faz cultos com a família ou amigos próximos e, muito menos, não dedica praticamente nada de seu tempo para fazer o bem às pessoas. E, para redimir-se, procura alguém para culpar por sua falta de dedicação ao Evangelho.
A Lakewood Church é uma versão presencial de um bom livro devocional, com uma mensagem de encorajamento, de fé. Um bate-papo rápido que geralmente resume-se em: “Amigo, eu sei que as coisas estão difíceis, mas este próximo ano será melhor. Não se abata com a situação, Deus pode fazer milagres em sua vida”. Eles mentem em dizer isso? Penso que não.
Agora, se esta possível frivolidade me incomoda, é dever meu aprofundar-me em algo que me faça falta. Poderia me ajuntar a um pequeno grupo de amigos e estudarmos a fundo determinada história bíblica ou relacionar acontecimentos bíblicos com o mundo atual, ficar um dia apenas falando sobre o diabo ou sobre a costela de Adão. A Lakewood fala semanalmente para mais de quinze mil pessoas presentes e outras incontáveis que assistem pela Internet ou escutam pelo rádio. A mensagem precisa ser inteligível para os do leite e para os da carne.
Além das mensagens semanais de encorajamento, existe o bônus de cada culto ter uma mensagem musical de altíssima qualidade. Acreditem ou não, a música tem um imensurável valor no alcance de vidas para Cristo, e Deus usa cada membro para seu propósito, que é alcançar seus filhos. Então, quando menciono qualidade, não apenas musical, mas espiritual.
Poderia desenvolver mais sobre os trabalhos desenvolvidos pela igreja, como a dedicação nos esforços para cuidar das crianças, em missões ao redor do mundo, mas estas atitudes são obrigações de instituições e pessoas que acreditam ser seguidores de Jesus. Afinal, isto é nada mais nada menos que o grande mandamento.
Quer dizer então que você concorda com tudo o que eles falam?
Claro que não, mas, quem não fala/faz bobagem? Eu não concordo com tudo que está na Bíblia e não é por causa disso que deixo de lê-la ou buscar sempre estar mais próximo de Deus. Outro dia li no Genizah Virtual um texto em que seu escritor dedica-se a malhar uma afirmação de Victoria Osteen, esposa de Joel. Malhar foi um tempo ameno que utilizei. Por causa de uma possível heresia dita pela pastora, a passou a ser considerada uma meretriz pelo autor. Pois é… quanto amor…
Infelizmente este é o grande problema da mentalidade cristã-evangélica atual. Amar pra quê?
Lembro quando o Caio Fábio mencionou que, apesar de ser um grande denunciador dos crimes e heresias praticados por tantos líderes cristãos, ele constantemente ora para que eles se convertam ao Senhor.
Por minha vez, pretendo ter a mesma atitude (não é fácil pois, nessas horas, é muito mais fácil dizer que “faltam-me palavras, sobram-me xingamentos”). Se eu vir alguma atitude contra o que considero ser correto perante Deus ou ouvir alguma bobagem dita, discordarei e não corroborarei, mas orarei por eles, afinal, o alcance de suas palavras e atitudes é muito maior por estarem sob a luz dos holofotes, de forma que, tanto suas virtudes alcançam mais gente e suas falhas também prejudicarão mais pessoas.
Eu e minha esposa tivemos a possibilidade de ter Joel Osteen orando por nossa filha Sarah, ainda no sexto mês gestação, em um primeiros cultos a que fomos juntos. Durante a rápida conversa que antecedeu sua oração, ele apenas perguntou nosso nome e qual o motivo especial da oração. E sua oração foi simples como qualquer conversa entre pai e filhos. “Senhor, que a sua bênção esteja sobre este casal neste tempo em Houston, que a Letícia tenha uma gestação tranquila e que a Sarah chegue com saúde”.
Ele não falou em línguas estranhas, não rodopiou seu blazer sobre nós para que caíssemos, não deu nenhuma rosa ungida e também não pediu para sermos dizimistas fiéis em sua igreja.
Por fim, quando estiver com vontade, dirigirei feliz até qualquer igreja aqui em Houston ou ao 3700 da Southwest Freeway e cantarei e ouvirei a mensagem sem nenhuma culpa. Aliás, se houver culpa, que seja a que sempre me aflinge, a de sempre estar aquém do que Deus espera de mim.
Patrese
8 anos atrás
Olá!
Gostei de seu texto! Cheguei aqui por meio da Entrevista que concedeu ao blog “Viver nos EUA”;
Deus o abençoe!
rodger
8 anos atrás
Obrigado pelo comentário! Sempre é legal saber que tem gente de verdade por aqui rsrsrs Fique com Deus também 😉
Pedro
8 anos atrás
Muito bom o texto, parabéns!
rodger
8 anos atrás
Obrigado, Pedro!
Robson
8 anos atrás
Cara , tenho a mesma visão de vc em relação as diversas opiniões s sobre Lakewood church, eu amo essa igreja, aprendo muito com os ensinamentos, apesar de frequentar o ministério espanhol, realemnte vc sai dos cultos como o coração em paz e cheio porque Deus se fez presente.
rodger
8 anos atrás
Olá, Robson 🙂 Legal receber seu comentário. Pra ser sincero, faz um tempão que não vou pra lá e sinto falta, principalmente da parte musical. Estava com filha recém-nascida e acabamos ficando um pouco presos em casa. Aí, quando ela já podia sair, conhecemos uma outra igreja – mais próxima de casa – que também é super legal. Já ouviu falar da Hope City? http://yourhopecity.com Grande abraço e fique com Deus.
Nilson Cordeiro
8 anos atrás
“Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me,”
Filipenses 1:18
Parabéns pela sua visão madura. Hoje em dia eu não “engulo” muita das coisas que se pregam por aí, tais como teologia da prosperidade, confissão positiva, etc, mas entendo que, mesmo que a motivação seja errada (e eles darão conta de si a Deus), entretanto o que importa é que Cristo está sendo pregado. Cabe-nos meditarmos na palavra para que não sejamos enganados e principalmente orar por esses (como o exemplo que você deu de Caio Fábio), para que Deus os restaure, mas principalmente sejam instrumentos para alcançar vidas. Na primeira vez que li esse texto de Filipenses, imaginei que o apóstolo Paulo repreenderia fortemente aqueles que tinham essas motivações falsas, mas me surpreendi e aprendi muito com a resposta dele, que “O importante é que Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro.”
rodger
8 anos atrás
Olá, Nilson. Muito obrigado por seu comentário 😉
Leonardo
8 anos atrás
Olá. Estou lendo seu texto em 24/02/2017, sexta-feira de carnaval. Cheguei aqui porque gosto muito de basquete e estava procurando notícias sobre o antigo ginásio do Houston Rockets. Gostei muito do que escreveu. Sou Católico, mas o que eu acredito mesmo é que sempre devemos viver melhor, viver o evangelho de verdade dentro de nós e com os outros. A igreja é um instrumento para conseguir isso e não a razão do meu viver. Um abraço.
rodger
8 anos atrás
Oi, Leonardo 😉 Super legal ler seu comentário! Um grande abraço pra você também. Não sei porque estava procurando informações sobre o antigo estádio. Apesar de bem interessante, o novo – Toyota Center – é muito maior e mais bonito rsrs Um abraço 🙂 Acompanhe os Rockets este ano porque parece que desta vez eles chegam mais longe rs