
Frustração e procrastinação – a relação entre o não querer e o agir corretamente
O que eu quero? O que não quero? Existem momentos da vida nos quais parece mais simples responder a segunda pergunta do que se ter plena de visão do que realmente se deseja. O não querer é passional, resultado de insatisfação, frustração, turrice ou até mesmo alterações hormonais. Nos casos tratados sob uma ótica analítica, o não querer é consequência de reflexão, ponderação e comparações inerentes à situação. E isto vale para quaisquer tipos de situações, sejam pessoais ou profissionais.
O querer, por outro lado, só pode ser construído corretamente se forem levados em consideração fatores etéreos, e não atitudes fruto de acessos emocionais ou autocomiseração, quando há a transferência de responsabilidade de frustrações para outros. Cada pessoa é responsável por 100% das atitudes necessárias para ter-se um pleno entendimento do que se deseja. E é sobre estas atitudes que quero falar neste texto.
Vamos contar a história de Marcos para ilustrar nossa história. Insatisfação no trabalho, em casa, no casamento, na vida. Sua situação atual é uma coletânea de fatos nunca desejados por ele. No meio de seu mar de frustrações, a solução mais rápida que ele escolhe é sobrepujar tais fatos por coisas que ele realmente deseja. E assim ele faz uma revolução em sua vida e sente que está caminhando para o lado certo, quando, repentinamente, tem aquele mesmo sentimento de um passado recente: insatisfação.
A história de Marcos serve apenas para ilustrar o ciclo no qual muitos se jogam e não conseguem sair. E a razão é simples: o querer foi resultado de um ímpeto e não de “reflexão, ponderação e comparações” mencionados no primeiro parágrafo. A importância que damos à dor deve ser a mesma que devemos dar aos esforços para sair dela. Agindo contrariamente, estaremos sempre no ciclo da frustração. Entretanto, todos estão cansados de saber que reflexão regada a emoção raramente resulta em algo bom e, para evitar tal mistura, alguns pontos fundamentais devem ser tomados antes de buscar qualquer rascunho na lista de “o que quero”. Vamos aos pontos:
A felicidade é o objetivo final.
Nenhum passo deve ser tomado sem que esta frase seja absorvida. Em meio à batalha contra a frustração, é fácil esquecer-se da importância da felicidade ou, ainda pior, confundi-la com algo efêmero. Aí é que se corre o risco de retornar-se à estaca inicial, ou seja, o bendito ciclo da frustração. A felicidade vai muito além da busca por um cenário em que tudo contribua a seu favor. Lembra-se de The Truman Show? Apesar de todo o universo trabalhar em seu favor, ele não se sentia completamente feliz.
Dinheiro não faz parte desta busca.
“Experiences are more important than material things” – Tony Hsieh.
O dinheiro nada mais é do que uma das incontáveis tentações mutantes que sutilmente podem tomar a forma de felicidade. Em nenhum momento digo que ele não é importante, mas, em se tratando de uma questão existencial, ele poderá servir apenas como um analgésico enquanto você estiver no mesmo ciclo. É fato que este analgésico pode durar anos e você pode viver uma inteira achando que vive em um mundo em que não se questiona o seu querer e seu viver, mas, por fim, um dia o efeito passa. É quase certo.
This is not about you. Compartilhe o que tem.
Exercício rápido: pense em acontecimentos de sua vida que, ao lembrar-se deles, seus lábios caminham levemente para os cantos de seu rosto e suas maçãs do rosto sejam levemente empurradas para cima. Estas lembranças que trazem sorriso e um instantâneo esquecimento dos problemas, nem que por poucos segundos, são grande pista para descobrir-se o que o fez/faz feliz. Geralmente, se não em todos casos, você lembrou-se de momentos com pessoas queridas ou fazendo atividades que deixaram marcas boas e indeléveis. Ou, provavelmente, ambos simultaneamente.
Agora, se você fizer o exercício inverso, ou seja, buscando na memória fatos que franzam a testa e amarguem a boca, muito provavelmente você se lembrará de fatos que também envolveram pessoas queridas ou até você mesmo, quando causou mal a si próprio.
Você não está só e suas decisões não podem apenas levar apenas seu egoísmo em consideração. Por mais independente que você seja, em tempos de reflexão, o que realmente importa é como você fez as pessoas próximas a você se sentirem. À medida em que se importar com as pessoas, você passará a se importar menos consigo e, como consequência, estará muito mais perto da felicidade. Isso não é nada novo. Doar sempre foi e sempre será melhor do que receber.
Nunca abra mão de seus talentos.
Você sabe que existe uma ou mais áreas em que você se reconhece como bom. E, se for excelente, as pessoas o reconhecerão por tal talento. A dica é simples: nunca abra mão deles. Ao contrário, exercite-os constantemente e nunca sinta-se culpado por ser bom nisso. Compartilhe com as pessoas o que tem de melhor e, desta forma, este último item será apenas uma aula prática dos três anteriores, ou seja, você estará caminhando rumo à felicidade, sem valorizar pseudofelicidades mas, pelo contrário, valorizando pessoas.
Siga estes passos com paixão e faça acontecer. Ao olhar a seu redor perceberá que não existe nenhum ciclo infinito, mas apenas um mundo normal, com seus invernos e verões, suas montanhas e depressões.
Denis Santos
9 anos atrás
Penso que o “eu quero” ou “não quero”, ambos são controlados pela mesma lógica cognitiva, o loop dos hábitos. Então como sabemos que o nosso cérebro é preguiçoso e gosta de trabalhar da maneira mais cômoda possível, rs… temos que criar hábitos inteligentes, que tragam benefícios para o que se quer na vida (target). Se o nosso amigo Marcos não consegue mudar um simples hábito de prática de exercícios, mesmo sabendo que a falta dessa prática trará malefícios a longo prazo para a sua saúde, mesmo não querendo isso, sabemos que seus hábitos o ocuparão e o levarão aos problemas inevitáveis. Acredito que o Marcos só conseguirá driblar essa situação substituindo velhos hábitos por hábitos mais simples e inteligentes, tudo vai do ponto de vista de recompensa, já que cedo ou tarde terá novos loops, que esses loops tenham sido bem arquitetados (orientados ao que o faça feliz).
Não sei se fugi um pouco do tema base, mas acredito que hábitos inteligentes ajudam a trazer a felicidade, mas isso é complexo do ponto de vista antropológico, o que é certo para o Marcos, é errado para o João. O que pode tornar o João feliz, pode ser a infelicidade do Marcos. Uma coisa é fato, a felicidade de um pode conflitar com a felicidade de outros, seria complexo definir o que é egoísmo se pensarmos em bolhas culturais que sofrem interseções constantes.
rodger
9 anos atrás
Denis, muito obrigado pelo comentário. A questão abordada em meu texto antecede a criação de hábitos. Ou seja, a autoreflexão sugerida é o passo inicial para que os passos seguintes sejam tomados da maneira correta, com o objetivo final já definido (ou o mais próximo possível de uma definição). Desta forma, os hábitos que você mencionou tratar-se-ão apenas de excelentes ferramentas em busca do objetivo final, a almejada felicidade 🙂 Encontrei um texto na Internet que adiciona muita informação boa ao que escrevi (e tem tudo a ver com seu comentário). Veja só: http://www.pavablog.com/2014/03/04/7-habitos-de-pessoas-incrivelmente-felizes